Estágio de verão atrai alunos de graduação da América Latina

Quando esteve no norte do Peru há mais de cinco anos, para participar de um congresso na área de biologia, o Prof. Dr. Richard Garratt conheceu muitos alunos de graduação entusiasmados com a carreira científica. Por outro lado, visitou uma instituição de ensino superior que oferecia uma infraestrutura tão limitada, que talvez pudesse prejudicar o interesse de estudantes pela ciência.

Durante a viagem, ao conversar com um aluno que viria a ser seu doutorando, Richard soube de um programa organizado pelo Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), em Campinas (SP), que oferecia bolsas a alunos interessados em estagiar no local durante dois meses.Nessa época, Richard estava à frente da Comissão de Relações Internacionais (CRInt) do Instituto de Física de São Carlos (IFSC/USP), onde hoje ocupa o cargo de Vice-Diretor, e o programa de estágio do LNLS, somado à realidade divergente que observara no Peru,o estimulou a propor à direção do Instituto que parte do orçamento da Unidade fosse investida em um programade estágio semelhante, que oferecesse bolsas a estudantes estrangeiros, principalmente a jovens oriundos de países geograficamente próximos do Brasil, buscando aumentar a popularidade do IFSC entre as instituições de ensino superior e de pesquisa da América Latina e incentivar a participação de alunos latino-americanos na pós-graduação da Unidade.

A proposta de Richard foraaprovada. Os programas deEstágio de Verão do IFSC/USPrecebiam uma média de cem inscritos, dos quaiscerca de doze eram selecionados para estagiarem na Unidade durante dois meses. Mas, oprojeto durou apenas três anos, porque, “durante um período, a USP foi malgerenciada. Então, hoje, por exemplo, não há mais todo aquele dinheiro”, diz Richard.

Disposto a dar continuidade ao programa do IFSC, o docente procurou outras fontes de investimento. Lembrou-se de HarrenJhoti, um amigo que, em 1999, juntamente com colegas ingleses, fundou uma empresa de biotecnologia que se dedicava ao desenvolvimento de fármacos e que, cerca de três anos atrás, foi comprada por uma companhia japonesa. Em 2015, quando Jhoti veio ao Brasil para ministrar uma palestra, Richard perguntou-lhe se estaria interessado eminvestir algum dinheiro no programa, e o amigo disse prontamente que sim, principalmente porque queria estimular a participação de mulheres na ciência.

Curiosamente, algum tempo depois, um norte-americano chamado Daniel Salazar, que atuava na companhia japonesa, mudou-separa o Brasil, para trabalhar em uma empresa da qual o Prof. Dr. Glaucius Oliva (IFSC/USP) é consultor. Durante uma confraternização, Glaucius comentou a respeito do programa com Salazar, que por sua vez sentiu o desejo de colaborar com a iniciativa, doando um valor em dinheiro.

A quantia de ambas as doaçõesera suficiente para custear gastos com hospedagens e transportes aéreos de alguns bolsistas. Pensando nisso, Richard decidiu organizar uma nova edição do programa e, em 2016, anunciou a abertura das inscrições do Estágio de Verão do IFSC/USP – 2017, que recebeu aproximadamente quarenta inscrições, sendo que sete candidatos foram selecionados e já estão realizando seus estágios na Unidade.

Eduardo Luciano Gutierrez, aluno de licenciatura em Química da Universidade Nacional de São Luis (Argentina), foi um dos inscritos que receberam bolsas para esta edição do programa. No Grupo de Cristalografia do IFSC/USP, o Prof. Dr. Javier Ellena tem orientado o estudante de 27 anos, na análise de formas cristalinas de materiais farmacêuticos, com o objetivo de melhorar as propriedades de alguns fármacos.

Anai Dias Morales, de 23 anos, é aluna de graduação em Engenharia de Biotecnologia Molecular da Universidade do Chile. Seu orientador de Iniciação Científica foi quem a avisou a respeito doestágio. Atualmente, ela estáno laboratório do Prof. Dr. Igor Polikarpov, com quem tem tentado descobrircelulasesque tenham utilidade industrial. Essas enzimas,retiradas de plantas, são utilizadas no processo de fabricação de materiais, como papele plástico.

Aos 23 anos, Anthony JhoaoFasabi Floresestuda Biologia na Universidade Nacional da Amazônia Peruana. Em duas ocasiões, tentara ingressar no programa de estágio do LNLS, mas não fora selecionado. Ele conheceu Richard há alguns anos em um encontro científico, e, quando solicitou ao docenteuma carta de recomendação, para que pudesse se inscrever novamente no citado programa, soube que haveria uma iniciativa semelhante no Instituto. Em 2016, Anthony se inscreveu no estágio, foi aceito, e tem recebido orientação de Garratt, para investigar ascistatinas, proteínas que inibem ações de enzimas que desempenham papéis importantes no desenvolvimento de câncer.

Pablo AntonioCea Medina também tem 23 anos e é mestrando em Engenharia de Biotecnologia Molecular, na Universidade do Chile. Sob a orientação do Prof. Glaucius Oliva, tem estudado o ciclo de replicação do vírus Zika. Antes de iniciar o estágio, já conhecia o IFSC, em razão de seus colegas pós-doutorandos que estudaram no Instituto. “Agora estou finalizando o mestrado, mas quero fazer um doutorado. Ainda não sei onde irei desenvolvê-lo, mas o IFSC é uma das minhas opções”.

Diana Carolina Castaño é graduanda do curso de Biologia da Universidade de Antioquia, na Colômbia. Através do programa do IFSC, a jovem de 24 anos tem estudado mecanismos de defesa de microrganismos que causam infecções hospitalares. “Atualmente, há uma preocupação mundial acerca dessas bactérias, porque elas estão se tornando cada vez mais resistentes aos antibióticos que deveriam combatê-las”, explica ela, que tem estagiado no laboratório da Profa. Dra. Ilana Lopes e demonstrado interesse em desenvolvera pós-graduação no IFSC/USP.

Com 26 anos, Catherine Mirley Ortega Gomez, da Universidade de Cauca (Colômbia), também tem desenvolvido o estágio no Instituto. “Inscrevi-me no programa para complementar meu trabalho de graduação, que envolve estudos com parasitas; e para aprender mais sobre biologia estrutural”, comenta a aluna que, no laboratório do Prof. Otavio Thiemann,tem feito clonagem e mutação de genes relacionados ao trypanossomabrucei,o parasita que causa a doença do sono, uma patologia que pode provocar mudanças de humor ou de comportamento, confusão mental, febre, distúrbios sensoriais e de coordenação, convulsões, bem como alterações no ciclo do sono. Nos animais, o parasita também pode causar uma doença chamada nagana, que ocasiona febre, anemia e inchaço. Uma vez infectados, os animais podem hospedar protozoários capazes de contaminaros seres humanos.

Embora a maioria destes alunos esteja na graduação, todos certamentedarão continuidade à carreira acadêmica. E, se depender deles, esta edição do programa já cumpriu algumas de suas principais metas, haja vista que Eduardo, Anai, Anthony, Pablo, Diana e Catherine pretendem desenvolver a pós-graduação na Unidade, ou estimular parcerias entre suas instituições de origem e o IFSC/USP.

Assessoria de Comunicação – IFSC/USP